Conforto ou traição?

Ontem, estive à conversa com um senhor africano, e muçulmano, que se estava a gabar de ter tido uma namorada no dia anterior, outra hoje, outra amanhã… e a mulher em casa, em África.
Ele afirma que vai ficando com uma ou com outra, conforme pode, afinal tem de aproveitar a vida. Disse que trabalha muito, que manda dinheiro para casa, que nada falta à mulher, que ela não faz nada, e até lhe abriu uma loja lá. Isso era o mais importante.

Perguntei se tinha filhos, disse que tinha dois. Afirmou, ainda, que o pai dele tinha casado com três mulheres, a última com menos vinte e tal anos; que era cultural e não fazia mal os homens terem muitas mulheres. Era normal.

Eu perguntei se não havia problema de a mulher dele lá, também, ter outros homens. “Isso não”, exclamou rapidamente, “se ela tiver outro homem, mato-o” (ou seria mato-a? Não percebi ao certo).
Eu disse que não era justo; se ele tem necessidade de estar com outras mulheres, ela também tem a mesma necessidade. Ele disse que não, que as mulheres são mães e são sagradas… e ainda acrescentou que respeitava, e gostava, mais da mãe do que do pai.
No entanto, foi do pai que se gabara de ser igual…

Bom, eu, como mulher e mãe, claro que não concordei e ainda lhe disse que uma mulher antes de ser mãe é mulher, e depois de ser mãe continua a ser mulher. Não se transforma em santa e continua a gostar de sexo.
Ele não está lá, ela finge que não sabe que ele tem outras e ele acredita que ela não tem!?
Há um género de acordo e não tocam nesses assuntos. Ele acha que está tudo bem, até porque vai lá uma ou duas vezes por ano.

Isto remeteu-me a outro caso que conheço: um homem (até mais) que pensa e age exatamente assim – “está tudo bem, desde que não falte nada em casa.” Este é português, branco e católico.

Será assim tão cultural?

Para mim, a história do “desde que não lhe falte nada” é apenas uma justificação para o próprio se sentir um pouco melhor e legitimar as suas infidelidades.

As mulheres, que conheço, preferem um homem leal, presente, e com menos posses, do que um traidor com mais dinheiro.

Feira do Livro

É com muito orgulho e satisfação que vos informo:

O meu livro, “O irmão de Sofia”, estará à venda, durante um mês, na Feira do Livro, em Almada, na Praça São João Batista, que começou hoje!

Agradeço ao senhor Paulo Figueiredo, da União das Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas e ao senhor David Cardoso, da MBOOKS, pela oportunidade e gentileza.

Para já, o livro só está disponível, para venda, através de mim, da Cercisa e no Mercado do Livro, em Almada, durante o próximo mês. Aproveitem!

Na Feira do Livro de Lisboa está disponível o meu 777, na banca da editora Cordel d’Prata.

Eu estarei presente, em Lisboa, para duas sessões de autógrafos, dia 11 de junho. Mais perto, darei os pormenores.

Tina Turner

O primeiro grande concerto que vi foi o da Tina Turner, no Estádio de Alvalade. Estávamos no ano de 1990 e eu era uma miúda. Nunca o esquecerei, ia morrendo esmagada. Estava tão perto da frente que os empurrões e a quantidade imensa de gente ensandecida fez-me temer. Foi a única altura que achei que ia morrer esmagada e com falta de ar, uma sensação horrível.
Muitas, como eu, iam sendo retiradas pelos seguranças que, do lado de lá das barreiras, ao se aperceberem do perigo, iam puxando pessoas em apuros. Também saí no colo de um deles.
A Tina parou de cantar, várias vezes, ao ver o sofrimento e estupidez que se passava, mesmo ali debaixo do nariz. Vi, depois, o concerto, tranquila, mais atrás.

Uma senhora maravilhosa, uma voz incomparável, uma energia contagiante, uma força da natureza. Miss Hot Legs. A “Rainha do Rock & Roll”. Um exemplo, uma lenda, uma diva. Nunca será esquecida. RIP Tina❤️

Fusão

A noite fugia-lhe por entre os dedos
Os mesmos que fervilhavam
tateando entre as coxas,
as ancas…
O calor invadia o espaço
Gotas de suor espreitavam
em cada recanto da pele
Era impressionante o que a fusão de dois corpos provocava
Naquele exíguo quarto de hotel
Onde os odores a carne e a desejo venciam o mofo
A paixão roubava a razão
A lingerie era deposta
Os beijos loucos espalhavam-se
As línguas quentes soltas dançavam
Os longos cabelos colavam-se
Rédeas nas mãos de um cavaleiro sem dó
Que arrebatado
perdia-se no tempo e espaço
que só o corpo dela lhe dava

Reflexão

Gosto de gente que gosta de ajudar outros sem esperar receber nada em troca.
Felizmente, conheço algumas.
Infelizmente, apercebo-me que estas pessoas são raras e estão em vias de extinção.

Continuo a desiludir-me com aqueles que se aproximam e prometem dizer, fazer e acontecer, mesmo sem que lhes peça nada, mas depois não cumprem.
Provavelmente, porque a sua verdadeira intenção era receber algo e quando tal não acontece, todas as promessas de ajuda desvanecem-se em fumo – fumo negro, tóxico, falso.
Porque será que a humanidade age assim? Só se tiver algum proveito é que ajudo esta ou aquela pessoa? Quando ajudam uma animal em aflição, esperam receber algo em troca? Ou também não ajudam?

Talvez, um dia, precisem mesmo de auxílio e não haja ninguém para o fazer…

Microconto – Parte II

O olhar pousou petrificado no dele, a respiração susteve-se e o coração parou de bater para arrancar, em seguida, como um cavalo veloz.

Deixei de ouvir a música, de ver as luzes, fiquei sem chão. Felizmente, estava sentada e encostada ao balcão.

Senti que também lhe causei uma sensação forte, mas sem certeza de qual. Aquele rosto desconhecido era simultaneamente familiar; a cor e o brilho daquele olhar sabia-me a conforto e, também, a desejo.

Ele foi-se aproximando. Ouvia o meu coração a bater e a ressoar por todo o espaço; senti-me a corar, o calor a invadir-me o corpo e desviei o olhar, de novo, para o copo.

Ele sentou-se no banco mais perto e disse “boa noite”. Com a voz trémula e baixa consegui responder o mesmo, sem levantar a cabeça . De seguida, virou-se para o empregado e disse: “quero o mesmo que ela e sirva-lhe mais um.”

Enquanto tentava recompor-me do caos que aqueles sentimentos díspares ocupavam dentro de mim, ele disse:

⁃ Sou o Miguel. Tu és a Ana, não és?

⁃ Sou – disse, espantada, encarando-o.

⁃ Foste criada num orfanato, desde bebé, certo?

⁃ Como é que sabes? Quem és tu?

⁃ Sou o teu irmão gémeo. Fomos separados poucos tempo depois do nascimento. Eu fiquei com os nossos pais biológicos e tu foste…

⁃ Abandonada? – perguntei, interrompendo-o.

⁃ Os pais viviam numa aldeia, eram muito pobres, contavam em ter um único filho e quando surgiste depois de mim… foi… foi complicado…

⁃ Complicado?

⁃ Sim, a mãe morreu poucos dias depois derivado a complicações do parto e o pai ficou sem saber o que fazer à vida. Escolheu ficar comigo porque, como rapaz, sempre ajudaria mais na lavoura e, na altura, a parteira disse que conhecia um casal com muito dinheiro que queria uma filha e podia pagar…

⁃ Fui vendida…?!

⁃ Eras para ser, mas o casal acabou por ser descoberto e arranjou problemas com as autoridades. A venda ficou sem efeito e tu acabaste num orfanato. O nosso pai, antes de morrer, contou-me tudo e eu fui procurar, investigar e consegui descobrir-te! Vais ter uma boa vida, daqui para a frente, não te vai faltar nada, vou cuidar de ti… mana!

Microconto em dois atos – I

Não conseguia dormir; saí da cama e desci.
O bar, mesmo por baixo, com as luzes a piscar, podia ser o remédio. Entrei e sentei-me ao balcão. As insónias perseguiam-me há meses; a falta de trabalho, dinheiro, família, carinho e amor faziam-se sentir nos ossos. Tudo me doía. O empregado serviu-me um whisky com duas pedras de gelo, o costume.
Fiquei a olhar para o copo, e enquanto esperava que o álcool fizesse o seu efeito pensava no que faria da vida. A mão esquerda segurava na cabeça; precisava de um milagre.
Dei mais um gole e fiquei a rodar o copo enquanto via o gelo a derreter e a desaparecer exatamente como a minha vida…
A música bem alta ajudava a silenciar os gritos da minha mente.
O lugar, ainda mais decrépito do que eu, estava praticamente vazio. Só as luzes coloridas preenchiam o espaço.
Um velho sentado numa mesa do canto, parecia já ter abandonado o corpo. No extremo, do longo balcão de mogno, outro homem, absorto em fumo e bebida, olhava para os dedos.
Senti a porta a abrir e olhei.
Os olhos encontraram-se e dois segundos pareceram dois anos.

Deixem as vossas sugestões para a continuação…

O irmão de Sofia

O meu livro, “O irmão de Sofia”, está à venda nas bancas do Almada Fórum e Rio Sul Shopping na Campanha do Pirilampo Mágico 2023.

Ontem fui até lá. Apareçam!

Deixo-vos com um bocadinho da história:

Ilustração feita pelo Atelier de Pintura da Cercisa

“Adormeceu, e sonhou com a praia e com um bebé que vinha até si, à beira-mar, trazido pelas ondas. O menino ria, contente, enquanto era carregado ao colo, numa manta de algodão branco, e não se apercebia do perigo que corria. (…)

Acordou com raio de sol que espreitava pelas frestas do estore entreaberto. Era o dia a chamá-la. (…)

Recordou o sonho e sentiu-se entusiasmada. Seria aquele o mano que tanto pedia aos pais?

Há cinco anos, ou mais, não sabia, mas desde sempre que se lembrava de pedir aos pais um irmão uma irmã. Preferia uma mana, mas, naquela altura, já tanto lhe fazia, desde que tivesse alguém com quem se pudesse entreter e brincar. Adorava divertir-se com a Cecília, mas uma boneca era uma boneca. Não comunicava com ela queria.”

Ilustração feita pelo Atelier de Pintura da Cercisa

Campanha Pirilampo Mágico

É já este sábado, 13 de maio, que arranca a campanha do Pirilampo Mágico.

O meu livro, “O irmão de Sofia”, fala sobre a minha experiência enquanto mãe de uma criança com Trissomia 21. É uma obra infantojuvenil e vai estar à venda nas bancas do Almada Forum e no Rio Sul Shopping. Quem quiser comprar vai estar a ajudar. Parte do valor das vendas reverte a favor desta instituição, que fez as ilustrações.

Espalhem a mensagem! Vamos acabar com a ignorância, com o preconceito e ajudar quem mais precisa! Comprem livros e apoiem os autores nacionais🙏🏼💖✨