Memórias
Nunca fui uma pessoa saudosa do passado, até porque tenho péssima memória, e esqueço tudo facilmente. Gosto de viver no presente, mas há recordações que nos marcam e ao relembrar uma delas, que guardo num cantinho florido, não consigo evitar, invariavelmente, rir-me. De mim e de toda a situação que vos vou contar.
Estávamos no verão de 89. Os meus pais tinham-se divorciado e fui passar férias para Monte Gordo, para casa da irmã do meu pai. Para não me sentir tão só, ele deixou-me levar duas amigas connosco. Na falta de quartos, ficávamos as três a dormir juntas no chão da sala. As noites quentes de agosto no Algarve vibravam de gente e energia, mas o meu pai fazia questão que estivéssemos sempre em casa por volta das onze, onze e meia. Supostamente, à meia-noite estaríamos a dormir.
A janela da sala com portadas em madeira e um rés do chão que dava para a rua eram o convite perfeito para uma escapadela noturna. Os inúmeros bares e discotecas que deixavam entrar quaisquer jovens senhoritas eram uma atração inevitável.
Esperávamos que a casa ficasse em absoluto silêncio e saltávamos a janela com todo o cuidado.
Nós só queríamos dançar.
Ub40, Doors, U2, Cyndi Lauper, Erasure, Roxette e muitos mais enchiam a pista e nós, em sintonia ritmada, só parávamos quando era hora de voltar. Três, quatro da manhã parecia-nos razoável para regressar ao repouso.
Fizemos isto algumas vezes até que numa das manhãs seguintes, ao pequeno-almoço, o meu pai disse que sabia de tudo. Senti um frio na espinha e o chão a fugir. Devo ter empalidecido.
O meu primo, que andava na tropa, havia regressado na noite anterior. Como não tinha chave, tinha batido à porta, como ninguém abriu foi bater-nos à janela. Na ausência de resposta, empurrou as portadas e voilá! Em vez de três moças deitadas no chão, haviam apenas almofadas. E foi assim que se acabaram as danças.
Uma coisa é certa- nunca mais voltei a fazer férias com amigas em casa da minha tia.
E vocês, também têm histórias destas? Contem-me! 🤩