Saudades quando te tinha bebé. Sentir o teu cabelo fininho, suave, que aspirava a cada inspiração, a tua cabecinha macia, o teu corpo ainda tão frágil. Ali, junto a mim, éramos um só. Ali, repousavas descansado. Sabias que não viria nenhuma bata branca raptar-te, nenhum exame ou inspeção, nenhuma seringa de agulha em riste para te fazer chorar. Sentias-me e sabias que estavas protegido. Podias entregar-te livremente ao sono. E eu adorava. Ficava que tempos acordada a ver-te, a ouvir-te, a sentir a tua paz que era, também, a minha. A melhor parte do meu dia era poder respirar-te, à noite. Envolver-te nos meus braços, inebriar-me com o teu cheiro, encher-te de beijos e festas, ter-te rendido só para mim. Fôlego profundo, desmaiado nos lençóis da felicidade, em total conforto.
Nove anos passaram e pouco mudou. Agora beijo-te, abraço-te, conto-te uma história rápida e agradeço, em oração, enquanto te aconchego a roupa da cama. Mas o nosso momento persiste. De manhã, quando o sol se levanta, vens pé ante pé no escuro e apenas com a minha benção te infiltras no quente ninho. Trocamos mimos e, em pouco tempo, pegas de novo no sono. Mais uma vez, tranquilo, seguro, em paz. E eu… eu fico ali, quieta, só a sentir a tua presença. É que, sabes, ela faz parte de mim.
Sou o teu corpo seguro e tu o meu farol na escuridão.
