
Sempre me atraiu gente diferente, estranha.
Nunca gostei muito de seguir modas. Quando a maioria vestia Benetton, eu comprava tecidos e mandava a costureira fazer saias compridas muito justas ou muito amplas, calças super largas ou super apertadas – sempre pretas ou bordeaux, usava as camisas enormes do meu pai e ténis bota, ou só bota, pretos. Às vezes, também usava as gravatas dele.
Se todos iam para a direita, eu ia ver o que se passava à esquerda. Se era proibido fazer algo, era quando o fazia mais depressa. Esgueirava-me às aulas, até não poder mais, e ia com uma amiga para a Alameda ouvir Xutos&Pontapés, com headphones na cabeça, enquanto apanhávamos sol. Andava sempre acompanhada do meu walkman da Sony e havia sempre algum livro da Agatha Christie na cabeceira. Atraíam-me rapazes mais velhos e prédios escuros com labirintos não recomendados. Rapei o cabelo de um lado e usava comprido do outro, pintado de vermelho, preto ou azulão. Mas nunca nada muito excessivo ou chocante.
Sempre saí à noite com a malta masculina. Nunca tive muitas amigas. As poucas que tinha não podiam sair. Fui uma das que teve carro mais cedo. Queria independência. Queria ir a todo lado. Conhecer tudo. Uma sede de curiosidade infindável.
Lembro-me da minha primeira viagem a Londres. Devia ter uns onze anos. Adorei. Acima de tudo, as diferenças na forma de vestir. Vi punks com cristas enormes, cabelos pintados de todas as cores, alfinetes espetados em todos os lados, correntes e um sem número de diferenças que me deixaram pasmada. Mas mais admirada fiquei por ninguém ligar puto a isso! Só imaginava aquela gente toda cá, em Portugal, a passear-se “assim” pelas ruas. Iam rodar cabeças que nem filme do Exorcista. Ali, ninguém queria saber. Gentes tão diferentes em tudo e tão indiferentes à diferença. Foi o que mais reti.
Adoro viajar. De preferência para fora da Europa, exatamente onde as diferenças culturais, raciais, sociais, religiosas, gastronómicas, etc. são mais acentuadas. A riqueza de um país são as suas gentes e o que têm de divergente.
O único rapaz de cabelo comprido do liceu foi a minha primeira paixão a sério e o meu primeiro namorado. Não combinávamos em nada e combinávamos em tudo. Ele era diferente de todos e era isso que mais me atraía. O bizarro e invulgar era o que me encantava. Quanto mais proibido e misterioso melhor.
Hoje, continuo a gostar de quem se diferencia por algum motivo. Carneirada junta em direção ao pasto verdejante não é a minha cena. Não critico quem o faz, mas eu prefiro as minorias. Fazem-me sempre querer ouvir, saber o que está por trás, que vida vibrante é aquela que pulsa à margem.
Além de que sempre gostei, e continuo a gostar, de defender aqueles que menos palmas arrecadam, os que levam porrada.
Talvez por isso tenha sido “escolhida” para ter um filho, diferente da maioria, mas tão belo e interessante de explorar. Graças a ele, outras realidades foram-me permitidas conhecer e é tão bom descobrir as infinitas possibilidades de vida que cada um é. Descobrir uma nova forma de amar.
O cérebro humano é a mais genial obra de arte alguma vez criada, a mais bela, complexa e enigmática sinfonia. O coração – a mais engenhosa e astuta poesia de amor.
💚🥰
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🙏🏼❤️🌻
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