
A margem ora se afigurava perto,
ora longe demais
Embalada pela suave melodia do rio
observava distante o que se queria na pele
Mas… aquele sentimento paralisava-a
Tolhia-lhe cada músculo
Ali permanecia
Desejando um milagre para que tudo acontecesse
Nada
Aquela mancha escura no peito crescia e alastrava-se
Castrava-a
Quanto mais desejava ir
mais inerte ficava
Imaginava a vida no outro lado
Fantasiava um novo mundo
O medo impedia-a de experimentar os desejos da alma
A dúvida de um novo amanhã
mantinha-a cativa num hoje mais que passado
Queria que um vento forte a arrebatasse
E a levasse sem escolhas
para a outra orla
Onde os montes e vales são mais verdes
Onde o sol brilha todo o dia
Onde a felicidade é o ar que se respira
e a sombra fresca o júbilo que acalma
Ali ficava, à distância, a observar
Tricotando em vida
Tudo que conseguia sonhar
Quisera matar o medo e ir
Mas a lama prendia-lhe os pés
Agrilhoava-a em mágoas movediças
Não a deixava ser feliz
Está já ali,
na outra banda
Onde as margens brilham viçosas