Ontem vi um filme, daqueles que matam a família do protagonista e ele, a seguir, vai procurar os autores do crime e vingar-se.
Em determinada altura de luto, dor e solidão, um cão torna-se um fiel companheiro. Foge dos agressores e passa a seguir o ator principal.
Esta situação remeteu-me para umas férias, há uns anos. Não estava prestes a matar ninguém, claro, mas estava triste e prestes a tomar uma decisão difícil e dolorosa.

Decidi fazer uma caminhada na mata. Com música nos ouvidos, e ténis nos pés, fui andando; quando reparei tinha um cão atrás de mim. Se eu parava, ele parava; se eu ia para uma subida, ele acompanhava-me; se mudava de direção, ele também mudava.
Éramos só os dois. Naquele momento no tempo, ele parecia ter aparecido para me ajudar, para me confortar. Andámos, só os dois, mais de uma hora por trilhos e caminhos.
Brincámos, defendi-o de uns rafeiros que pareciam chateados com ele e ainda o repreendi porque encontrou uma ave morta e abocanhou-a todo orgulhoso. Tive de o obrigar a soltar aquela porcaria. No fundo, fiz aquilo que fazemos com os nossos filhos.
No fim, acompanhou-me até casa e entrou. Os miúdos brincaram com ele, demos-lhe água e muitas festas.

Depois, tive de o levar e tentar encontrar os donos. Por mim, tinha ficado com ele. Mas ele tinha um lar. Não podia retirá-lo à família. Ainda choraminguei.
Foi tão importante para mim, naquela altura, aquela companhia silenciosa, fiel, que surgiu sem me aperceber e fez tanta diferença. Um anjo em forma de cão.
Já vos aconteceu serem escolhidos por um animal?
