Não tenho por hábito escrever ou pronunciar-me sobre assuntos capazes de levantar polémica. Falar de futebol, religião, política, preferências partidárias, preferências sexuais, côr, nacionalismo, etc. Também prefiro não falar de certos conteúdos que, por si só, já são chatos, incomodam. Aqueles que, habitualmente, somos bombardeados diariamente nas notícias, no grupo de amigos, no café, no cabeleireiro, no consultório e por aí. Assuntos pesados, chamemos-lhes assim. A morte, a injustiça, as doenças, a falta de apoios, o roubo dos governantes, o abuso de poder, a saúde precária, os impostos – são temas que causam celeuma e urticária. São questões que dividem e causam discussões porque são passíveis de várias interpretações e sentimentos difusos. Mas, de todas estas, há uma que nos assola e mesmo sendo a nível mundial continua a dividir e não devia. Devíamos estar unidos. Devíamos zelar uns pelos outros. Devíamos cuidar de nós. O amor ao próximo é isso mesmo. É pensar no outro, é preocupar-se, é fazer o melhor para ajudar e se não podermos ajudar, ao menos que não prejudiquemos.
Já existiram várias pestes, pragas, vírus e pandemias ao longo da história, mas num passado recente, com esta dimensão e duração, com os avanços existentes na medicina e indústria farmacêutica, esta caiu como uma bomba inesperada. Apesar de que já existiam alguns estudos, previsões e avisos acerca do tema.
Obrigou-nos a isolar, a parar tudo, a suspender as nossas vidas. Ninguém gosta de ser forçado a nada. Mesmo aqueles que já viviam praticamente em isolamento agora querem sair para a rua porque “ninguém manda em mim!” E este tipo de sentimento já vem do berço. Quando se diz a uma criança para não carregar naquele botão ou não mexer naquele armário é quando mais depressa ela lá vai. Pois é, mas neste caso, ao fazermos o que nos apetece podemos estar a colocar, além da nossa, a vida de alguém em risco. E isto é muito grave. Toda a gente tem família, amigos, vizinhos, conhecidos. E se uma dessas pessoas adoece ou morre porque fizemos o que nos deu na real gana?
Vou contar uma história de alguém que conheço. A senhora, na casa dos quarenta, foi um dia almoçar com uma amiga. A amiga estava assintomática e não sabia ser portadora do coronavírus. Sem querer, pegou à amiga nesse almoço. Nenhuma das duas sabia e no dia seguinte a senhora foi ter com a mãe e transmitiu-lhe, sem saber (claro!), o vírus. A mãe faleceu. Ela continuou assintomática. Pode ter sido coincidência? Pode. Mas acham que a filha pensa que foi? Ou vai se culpar pelo resto da vida por ter ido àquele almoço?
Todos nós devemos pensar bem antes de fazer algo do qual nos possamos arrepender. Não devemos descurar os conselhos de quem sabe, de quem está à frente da situação e de quem, acima de tudo, arrisca a vida diariamente para tratar de uma série de gente desconhecida que lhes vai parar às mãos, entre a vida e a morte. Pessoas que escolheram uma profissão em que ajudar o próximo é o seu lema de vida. E, muitas vezes arriscam a delas e a das suas famílias também. Pessoas que já quase há um ano lidam com esta situação caótica. Pessoas que têm de escolher quem salvam e quem deixam morrer. Já se puseram nesse lugar? E se fossemos nós a estar debaixo daquela quantidade de batas, proteções, máscaras, carapuços, botas etc., a trabalhar em condições de stress em que têm de fazer o papel de deuses? Como será que estaríamos? Se calhar iríamos preferir estar trancados em casa! Eles se calhar preferiam. Já viram a responsabilidade que recai sobre eles? E sobre nós? Será que não recai nada? Claro que sim!
Vamos deixar de ser irresponsáveis, de só olhar para o nosso belo e saudável umbigo e perceber que não acontece só aos outros. Pode acontecer a qualquer um. Desportista ou não, fumador ou não, velho ou novo, homem ou mulher. Ninguém sabe. Mas todos sabemos uma coisa – cabe a cada um ser responsável, por si e pelos outros. Temos esse dever para com todos, porque todos somos um único global e o que fazemos em termos individuais irá sempre refletir-se no todo.
Protejam-se. Ocupem-se. Aproveitem para fazer coisas que gostavam de fazer mas não tinham tempo – aprendam a cozinhar aquele prato, leiam aquele livro, pintem, escrevam, exercitem-se, toquem um instrumento, façam um puzzle… Cuidem de vocês, da vossa saúde física e mental. Cuidem dos próximos. Orem. Confiem. Respirem fundo. Relaxem. Oiçam o silêncio. Tudo passa. Não há mal que sempre dure.
A grande maioria de nós, seres humanos, não gosta de mudanças, de alterações, do desconhecido. Já eu… Aflige-me estagnar, manter, rotinar, parar e não aproveitar o que há de bom em mudar. Quebrar rotinas, experimentar, saltar e ver no que vai dar.
Também já tive medo. Medo de falhar, medo de arriscar, de lutar, de mandar tudo ao ar… Agora não. Já não tenho. Acredito, confio, espero e desfruto.
Custou-me mais ficar apegada, agarrada a coisas, pessoas, situações, do que todas as mudanças que fiz. Perdi mais em ficar do que em arriscar, em mudar.
Com a mudança ganha-se vida, ganha-se alento, renascemos, crescemos, limpamos, renovamos e largamos amarras, pensamentos, escolhas e circunstâncias nas quais já não nos encaixamos e, por isso, surgem as oportunidades de modificação. Muitos, por nunca o fazerem, chega o dia em que são obrigados. E, normalmente, é mais doloroso.
Mas, sim, é preciso coragem. É preciso tê-los no sítio, em muitas ocasiões, para se conseguir chutar o balde. Lançá-lo ao ar e ver, muitas vezes, o olhar aterrorizado daqueles que nos rodeiam e pensam: “Louca! E agora, o que vai ser dela?” E aí ela renasce, reencontra-se, purga-se e dá a volta por cima, apresentando-se depois melhor que antes.
Claro que, pelo meio, existem danos colaterais. Existem sempre. Nem sempre é fácil fazermos escolhas. Não é fácil largar o cómodo acomodado, o conforto do conhecido e partir, sem nada, em busca da eterna felicidade no desconhecido, no incerto. Só aqueles que na loucura o sentem na pele e, mesmo com medo, arriscam. E fazem muito bem porque o resultado é ficar-se melhor, mais feliz, mais realizado, mais forte, mais sábio, mais experiente e com mais certezas de que nada é certo, nada é garantido, mas nada é melhor que arriscar para sentir, de facto, o que é ser vivido.
Estar vivo é isto. É sair da zona de conforto e testar-se. Ver do que se é capaz. Ver como se safa. Estar em constante mutação, não estagnar. Correr atrás dos sonhos.
E o melhor presente que temos é a vida que nos foi concedida.
Aproveitá-la é dever para podermos ter uma vida feliz.
Libertar o que nos carrega é imprescindível para criar espaço a novas vivências.
Acreditar num futuro melhor, com fé, move-nos, mas não sejamos utópicos. Há coisas que nunca mudam. Mudemos nós aquilo que nos incomoda e está nas nossas mãos e aceitemos aquilo que somos e que não podemos mudar, com amor.
Naquilo que pudermos, ajudemos o próximo. Não esquecer que há mais felicidade em dar do que há em receber.
Que continuemos humildemente a aprender, a crescer e sejamos gratos pela prenda maravilhosa que temos – o presente!
Tenho inveja. Invejo os que se deitam e ainda os lençóis não estão quentes já o comboio assobia avançando para novas estações.
Eu fico parada. Espero que um novo comboio carregadinho de sono apareça. Aguardo muda e quieta. Tento não me mexer para não o espantar. Observo o enorme relógio da estação que me mantém alerta ao passar do tempo. Vejo, ao longe, denso fumo e penso que é desta. Quando, no escuro, a visão clareia percebo que é um daqueles rápidos que não param. Uma ventania revolta-me os cabelos e as palavras que se iam arrumando no meu cérebro. Agora estão soltas num remoinho frenético. Tento ajuntá-las, arrumá-las e aquietar a mente para receber o sono.
Lá me encosto de novo no banco das almofadas e espero. Já o convidei faz tempo e nada!
Vejo de novo, ao longe, nuvens de cinza. O coração dispara de esperança. O comboio abranda e finalmente consigo entrar. Encosto-me, certa que o embalo me fará adormecer e poderei descansar. Assim que relaxo as pálpebras, sou surpreendida por uma acervada agitação. Estupefacta percebo que é um comboio em completa celebração.
Todos reunidos, em grande paródia, cantam, dançam, comem, bebem, riem e divertem-se. Sou a anfitriã e não sabia! Rio-me com a situação. Era uma festa surpresa. Conformo-me e permito-me festejar.
Um dia ainda consigo apanhar o comboio da meia-noite.
Este ano, que não teve nada de feliz nem de festas, temos de desejar muito mais.
Desejar que este vírus desapareça e que os abraços, beijos e afetos regressem.
Desejar que possamos resgatar as nossas vidas em suspenso.
Desejar andar em liberdade na rua.
Desejar não ter receio de estarmos perto uns dos outros.
Desejar que quem passou pelo pior recupere.
Desejar que quem conseguiu escapar possa ser grato e possa aproveitar ainda mais os seus.
Desejar que todos nós desfrutemos a vida, a família, os mais velhos, os mais novos, os amigos e tudo que pudermos porque o maior privilégio que temos é estar vivos.
Desejar, também, que todos os desafios que 2020 nos trouxe possam ser transformados em lições e sabedoria para 2021. Deixemos o passado passar e encaremos com positividade, fé e alegria o futuro.
Como Shakespeare disse: ” No mesmo instante em que recebemos pedras em nosso caminho, flores estão sendo plantadas mais longe. Quem desiste não as vê.”
Que nunca desistamos!
Muita saúde, amor e união, são os meus maiores desejos para todos nós!
Comparamo-nos desde pequenos. Quem tem o melhor carrinho ou a boneca mais linda; os ténis da moda; o penteado mais cool; o telemóvel mais caro; a melhor bicicleta; a namorada mais gira; a melhor faculdade; o melhor curso; o carro mais desportivo; o melhor emprego e por aí adiante. Desde a simples comparação com os sapatos da colega de trabalho ao ordenado e à aparência… vivemos nisto!
E porquê? Para quê?
Para nada, porque nada nem ninguém é igual. Todos somos diferentes. Cada um tem a sua personalidade única, o seu jeito, o seu estilo, os seus gostos, os seus dons.
Queremos ser iguais ao ator tal, à cantora y, ao youtuber x, à blogger z…
Nem os pais, que até têm noção disso, conseguem, a tempo inteiro, deixar de comparar os filhos entre si ou a si mesmos quando tinham a mesma idade. No entanto, nem os gémeos verdadeiros são iguais. E, mesmo que as semelhanças físicas sejam demasiadas, a personalidade nunca é. Podem ter vinte filhos, que nunca nenhum será igual ao outro.
Assim como na natureza. Há padrões idênticos, mas nunca iguais. Não há uma flor exatamente igual à outra, uma borboleta cópia de outra e nem sequer uma zebra com as riscas todas no mesmo sítio. Parecem iguais, mas não são!
Esta variedade e singularidade do universo é que o torna tão belo, único, especial. Assim como cada um de nós! Por isso, vamos tentar deixar de nos comparar. Deixar de comparar o que não tem comparação. Não há ninguém como nós e isso torna-nos incomparáveis. Ao tentarmos alcançar um ser que não é natural, acabamos vítimas de um ideal que não existe. Tentamos alcançar o vento. E muitos ficam frustrados, tristes, infelizes, deprimidos.
Ao invés de nos concentrarmos nos defeitos, vamos antes reconhecer e abraçar as qualidades especiais que cada um de nós possui e que fazem de cada ser a pessoa única que é. Vamos celebrar e brindar ao fato de sermos únicos, especiais. E celebrar esse fato é aceitar isso mesmo. Aceitar as nossas diferenças e as dos outros. Aceitar que não temos de ser iguais a ninguém para sermos bons e gostarem de nós. Aceitar que sermos apenas o que somos é suficiente. É ímpar! E essa é a grande beleza! Brindemos a nós e à vida!