Deixa-me olhar E perceber se os teus olhos mentem Deixa-me perguntar E ouvir da tua boca a verdade Preciso de saber Se gostas de mim nas noites Que eu passo sem ti
Devia bastar-me dizeres que sim Mas quando te vais fico assim Insegura e triste Penso que não vais voltar Noutros braços irás te perder E noutro colo adormecer
Por isso peço-te Não vás Fica Beija-me Abraça-me E fiquemos assim Apaixonados até ao amanhecer
Deixa-me olhar Deixa-me perguntar Se gostas de mim nas noites Que eu passo sem ti
Singela homenagem a uma das músicas portuguesas mais lindas de sempre – Deixa-me olhar – Além Mar, do músico Nuno Barroso
A meio da noite despertas-me Tocas ao de leve no meu ombro Sopras suave no meu cabelo Sussurras palavras ao meu ouvido Despertas a minha mente Aqueces-me o coração Fazes que o descanso se vá E o desejo tome conta de mim Já não fecho os olhos Sou obrigada a abri-los E a derramar todas as ideias Que me invadem Saltam Dançam e riem na minha cabeça Têm de ser escritas Só depois posso desligar e sossegar E é assim que em algumas madrugadas De mansinho A poesia chega até mim
Olha para mim Através da lente do universo Não repares Na ruga que nasceu No cabelo branco que surgiu Na falta de força que apareceu Ou na mancha que eclodiu No excesso de informação Na memória que adormeceu Ou na falha de razão Vê antes A alegria A paz A calma A sabedoria O afeto oferecido O colo quente O amor sem cobrança A fé regada de esperança
A convite do Centro de Desenvolvimento Infantil Diferenças, deixo-vos o artigo que escrevi, como mãe de uma criança com Trissomia 21.
Sou simples complexidade Clara como água do mar Azul carregado Verde coral Calmo como um lago Tormenta de altas vagas Ondas suaves Ou de espuma apinhadas Forte como um tufão Leve como um dia de verão Um vazio cheio de tudo Um presente carregado Um agora desligado Somos tanto Somos nada
A todas as horas tenho a fantasia De querer ser melhor a cada dia Um novo acordar Um novo respirar Deixar o velho e ultrapassado para trás Correr atrás do novo Perseguir nuvens de sonhos Voar nas asas de um anjo E nunca mais despertar Viver no faz de conta E a realidade enganar Como? Ler, dormir, orar, escrever, meditar Ir à praia ver o mar, rir alto e dançar A muitos tentar ajudar Nunca deixar de amar E assim a cada manhã o tempo ludibriar
– Amo-te, mãe – disse, com os olhos a quererem fugir para o chão.
– Também te amo muito, meu amor – respondeu, emocionada. Expirou fundo e descansou.
Jornal A Voz de Paço de Arcos – 02/2022
Quantas vezes esta palavra é dita com verdadeiro significado e quantas vezes fica por dizer?
Nem sempre demonstrar amor e expressá-lo foi comum a todas as famílias; nem é ainda. Principalmente nos homens. Chefes de família saem cedo para trabalhar, cuidam da família para que nada lhes falte, até mudam de país para ganhar o pão, mas dizer «amo-te» a um filho ou a uma filha, ao pai ou à mãe, é tido como uma fraqueza. Equiparado ao chorar. Homens não choram. Foram feitos para ser fortes, inabaláveis e isso dá-lhes uma capa de insensibilidade, que muitas vezes não corresponde à realidade.
Quantos filhos nunca ouviram essa palavra? Conheço alguns. Talvez os pais também nunca a tivessem ouvido dos seus. Ou talvez só o dissessem quando os filhos eram pequenos.
Por vezes, só quando estão enfermos, acamados e com idade avançada é que a família, a custo e com vergonha, consegue dizê-lo. Quem nunca o fez, e não foi habituado, quando tenta parece que lhe estão a arrancar os ossos. Porque será? Uma das palavras mais belas e com tanto significado é muitas vezes engolida ou fica algemada na garganta.
Quanto mais tempo passa, mais difícil fica. É claro que se amam e fazem tudo o que sabem para cuidar uns dos outros. Mas porque será tão difícil dizer «amo-te, mãe», «amo-te, filha», «amo-te, pai»?
Dizer ao marido, à esposa, ao namorado ou à namorada parece mais fácil. Mesmo assim, há casais que deixam de o dizer passados aqueles primeiros anos. Outros há, que fazem questão de o dizer todos os dias, uma vida inteira. Deveria ser sempre assim.
Mesmo que saibamos que somos amados, faz uma grande diferença quando o expressamos em alta voz. Quem ouve sente a confirmação e o poder que as palavras têm. Até porque com tantas curvas e desastres que a vida tem, surgem, por vezes, dúvidas.
Num mundo com tanto ódio façamos a diferença!
Vamos dizer àqueles que amamos que os amamos. Não esperemos que fiquem doentes ou à porta da morte ou, pior, que os percamos sem nunca lhes ter dito «amo-te».
E hoje, já disse aos seus que os ama?
Artigo e poema publicados no Jornal A Voz de Paço de Arcos – 02/2022
Foste tempestade no meu sol Foste escuridão na minha lua Foste pedra em pé descalço Foste seca no meu inocente mar Foste gritaria que rompeu o silêncio Foste tudo que não queria nem sabia que existia Agora nada és Aprendi o que não quero Amar não é assim Sei bem o que quero para mim
Finalmente vi ontem o remake do filme West Side Story, realizado por Steven Spielberg. Estava bastante curiosa, pois desde miúda que sou fã do filme e, acima de tudo, da banda sonora. Lembro-me de ouvir em loop o CD. E nada melhor que dançar e cantar a música I Feel Pretty em altos berros. Quem nunca?
Engraçado, o realizador, na grandeza dos seus 75 anos, confidenciar que este filme foi o mais assustador da sua carreira. Talvez por o adorar, saber de cor todas as letras das músicas e ter “um desejo desesperado de fazer a sua versão”, conforme revelou em conferência de imprensa.
O musical original estreou na Broadway em 1957, inspira-se no clássico Romeu e Julieta de Shakespeare, e transpõe-se para a Nova Iorque dos anos 50. Em 1961 surgiu a primeira adaptação para Hollywood.
Gosto de histórias de amor e de musicais, principalmente quando a banda sonora é do grandioso músico, maestro, compositor e pianista Leonard Bernstein. Um génio!
O que é que estava à espera? Confesso que alimentava uma secreta esperança que esta versão tivesse um desfecho diferente do original. Estive até à última sem saber como iria terminar, mas Spielberg não quis alterar a história.
Quem é que não gosta de finais felizes? Bem sei que a vida é cheia de chatices, ódio, violência, preconceito, racismo e morte. O filme retrata bem uma sociedade que infelizmente continua atualizada com aquela época. Pior.
Precisamente por a vida ser assim é que gosto e espero que os filmes, livros e peças de teatro terminem bem. Ao menos ali (mesmo sabendo que não corresponde à realidade) que se possa dizer “viveram felizes para sempre.”